Pela Freita, Arada e Montemuro – O regresso do corço

GONÇALO BROTAS, CINDY LOUREIRO, DÁRIO HIPÓLITO, RITA TINOCO TORRES

O lobo-ibérico (Canis lupus signatus) encontra-se em perigo de extinção em Portugal e é protegido por uma lei específica. O núcleo de lobo que habita a sul do rio Douro é pequeno, isolado e instável, e caracteriza-se por uma reduzida diversidade genética. Alguns dos projetos de energia eólica instalados na área de distribuição deste núcleo tiveram de implementar medidas de mitigação. Uma dessas medidas foi um projeto de reintrodução (PR) do corço (Capreolus capreolus), que se propõe a restaurar a diversidade e abundância de presas silvestres do lobo e atenuar os conflitos com o Homem, uma das principais ameaças à sobrevivência do lobo, uma vez que mais de 90% da dieta do lobo nesta área se baseava em gado doméstico. O PR seguiu as diretrizes de reintrodução da União Internacional para a Conservação da Natureza e foi dividida em três fases: a fase de viabilidade, a fase de libertação e a fase de monitorização. A fase de viabilidade teve início em 2008 e incluiu a análise da adequabilidade do habitat para identificar os locais de libertação mais adequados, a avaliação das populações de origem (incluindo análise genética, idade e sexo) e o envolvimento dos atores locais. Em 2013, iniciou-se a fase de libertação, com reintroduções periódicas até 2021. A fase de monitorização iniciou-se com a 1ª reintrodução e ainda está em curso. Para monitorizar as populações reintroduzidas, o seu sucesso e o impacto no núcleo de lobo, temos vindo a utilizar diversas metodologias, incluindo tecnologia GPS, armadilhagem fotográfica e análise da dieta dos lobos que constituem as alcateias monitorizadas. De 2013 a 2021, um total de 129 corços foram libertados em três locais diferentes, dos quais 70 foram equipados com colares GPS. Os nossos resultados demonstram que, durante os primeiros meses após a libertação, os animais exibiram uma série de movimentos exploratórios até ao estabelecimento da sua área vital. A maioria dos corços libertados permaneceu perto do local de libertação, o que demonstra que a sua seleção foi um sucesso. A taxa de mortalidade foi baixa e foram registados vários eventos de reprodução, resultando no crescimento da população e expansão para áreas adjacentes. Durante o PR, identificámos uma mudança na dieta do lobo, com a redução do consumo de gado (90% para 65%) e a inclusão do corço (4%). Os nossos resultados sugerem que esta reintrodução foi bem-sucedida e prevê-se que tenha um efeito positivo nos núcleos de lobo locais, contribuindo assim para compensar os impactos dos projetos de energia eólica e diminuir o impacto do lobo no gado doméstico.

 

 

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