A resposta ecológica ao turismo e os desafios de gestão das florestas da Macaronésia – A floresta nativa dos Açores como caso de estudo

RUI CARVALHO

A ocupação portuguesa dos Açores desde o século XV teve efeitos dramáticos na vegetação do arquipélago. A Laurissilva, que ocupava quase a totalidade do território abaixo dos 600m, está hoje em risco. Acima desta altitude, protegidas pelo desafiante terreno montanhoso, as florestas de nuvens, também habitat de floresta nativa, sofreram menor impacto humano. Nestes habitats, a percentagem de espécies endémicas pode chegar aos 52%, algumas das quais presentes exclusivamente numa única ilha. Os Açores são caso ímpar de ocorrência de florestas de nuvens fora da zona tropical e subtropical. Nos últimos anos, verificou-se um acentuar da procura dos trilhos recreativos que atravessam estas florestas, já que são as infraestruturas que permitem aos turistas visitar esta relíquia paisagística. A raridade e a sensibilidade excecionais deste habitat, tornavam premente perceber se a atividade turística estava a ter impactos na integridade do ecossistema. Nesse sentido, e com base em mais de duas décadas de pesquisa ecológica desta floresta, foi criado um sistema de monitorização capaz de compreender a dinâmica entre o uso turístico e a resposta ecológica destas florestas. O seu desenho teve em conta a necessidade de providenciar indicações claras, às entidades gestoras, de como minimizar os impactos recreativos, otimizando dois mandatos por vezes contraditórios: salvaguardar a área protegida de ameaças à sua integridade e promover a sua visitação. Os resultados da monitorização demonstram que: i) os trilhos pedestres têm implicações na alteração das espécies das comunidades de plantas adjacentes ao trilho, tanto taxonómica como funcionalmente; e ii) a abundância de espécies invasoras aumenta com a proximidade ao trilho. Com recurso a uma experiência de pisoteio, compreendeu-se que, mesmo pressões muito baixas de pisoteio do subcoberto, nomeadamente em musgos, herbáceas e arbustivas, produzem danos muito significativos na altura e na abundância das espécies presentes. Testes com técnicas de construção sustentável de trilhos demonstraram que infraestruturas sustentáveis melhoram significativamente a capacidade de recuperação da vegetação pisoteada. Dentro das técnicas estudadas, os passadiços em madeira apresentaram uma diferença positiva observável na regeneração das plantas, sendo a sua construção menos exigente. Com os resultados obtidos, criou-se a possibilidade de gerir os impactos nestas florestas únicas com base no conhecimento, e de acompanhar a sua evolução através de um programa de monitorização a longo prazo.

 

 

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