Gralha-de-bico-vermelho: derradeiros voos numa paisagem em vias de extinção
JOÃO ALEXANDRE CABRAL, VANESSA RODRIGUES, DIOGO CARVALHO, FRANCISCO MORINHA, PAULO BARROS, RITA BASTOS, CARLA GOMES, HÉLIA VALE-GONÇALVES, LUÍS BRAZ, ESTELA BASTOS, MÁRIO SANTOS, PAULO TRAVASSOS
Durante o último século, a gralha-de-bico–vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax) tem sofrido uma regressão acentuada das suas populações, em praticamente toda a sua área de distribuição. A extinção local destas populações tem ocorrido em muitas regiões onde a espécie era outrora comum, sendo o único corvídeo classificado como “Em Perigo” pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Neste contexto, o Laboratório de Ecologia Aplicada da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro lançou em 2006 um conjunto de iniciativas, em parceria com o então Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade, visando contribuir para um melhor conhecimento do estado das populações de gralha-de-bico-vermelho em Portugal de forma a potenciar a sua conservação futura. Após mais de uma década de trabalhos focados na avaliação das pressões que condicionam a ocorrência da espécie em Portugal, especialmente decorrentes do abandono das práticas agropastoris tradicionais e/ou da intensificação agroflorestal, aparentemente de forma irreversível e a um ritmo sem precedentes, o Laboratório de Ecologia Aplicada compilou, em estreita colaboração com outras entidades nacionais e internacionais, uma síntese dos principais resultados e conclusões à luz de novas áreas do conhecimento. De facto, são exemplo desta abordagem multidisciplinar a análise dos padrões genéticos e da condição das populações, incluindo ferramentas de previsão dos padrões emergentes da biologia, ecologia, comportamento e distribuição da gralha-de-bico-vermelho, permitindo simular tendências futuras relevantes para o conhecimento dos fatores que condicionam o seu estado de conservação em Portugal.