Ligações migratórias estabelecidas pelas aves limícolas do arquipélago dos Bijagós

JOSÉ AUGUSTO ALVES, ANA PINTO COELHO, CAMILO CARNEIRO, JOSHUA NIGHTINGALE, AISSA REGALLA DE BARROS, AFONSO DUARTE ROCHA

O arquipélago dos Bijagós na Guiné-Bissau é um local de enorme importância para as aves costeiras na rota migratória do Atlântico Leste, particularmente para as aves limícolas, mas também para gaivinas e garajaus. Possuindo a maior área intertidal do continente africano, pode albergar até 870 mil aves limícolas originárias de áreas de reprodução nas zonas temperadas, subárticas e árticas do paleártico e neártico, muitas delas com tendências populacionais de declínio. Contudo, as ligações migratórias entre o arquipélago dos Bijagós, as zonas de reprodução e os locais de paragem migratória (stop-over), tal como estabelecidas por estas aves, são ainda pouco conhecidas. Neste estudo realizaram-se sessões de captura e marcação individual destas aves, permitindo o reconhecimento destes indivíduos ao longo da rota migratória, com o objetivo de recolher observações durante o período do ano em que estes migradores se ausentam dos Bijagós. Foram capturadas 1878 aves das quais 1215 foram marcadas com anilhas de cor ou de código, e foram também recapturadas 30 aves originalmente anilhadas fora dos Bijagós e da Guiné-Bissau. Devido à percentagem assinalável de aves marinhas (gaivinas e garajaus) recapturadas que tinham já sido marcadas noutros locais da rota migratória (33%), as ligações estabelecidas por aves deste grupo foram também incluídas neste trabalho. As aves marcadas nos Bijagós originaram 338 registos visuais fora da Guiné-Bissau, tendo permitido estabelecer ligações migratórias para várias espécies. Foi estabelecida a conectividade migratória entre os Bijagós e 19 países, número que deverá aumentar nos próximos anos com a obtenção de mais registos das aves presentemente marcadas. De uma forma geral as aves migraram dos Bijagós até à Europa Ocidental, onde realizaram paragens migratórias tanto na migração pré-nupcial como na migração pós-nupcial, nas suas viagens para e desde as zonas de reprodução mais a norte; embora existam algumas espécies que também se reproduzem nesta área, por exemplo o perna-vermelha (Tringa totanus). Esta conectividade e interdependência das aves migratórias, que desempenham diferentes etapas do seu ciclo anual em países distintos, demonstram bem o papel que vários estados devem exercer de forma coordenada para a preservação destas espécies.

 

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