Espécies invasoras em Portugal – que problemas causam e como cientistas e cidadãos têm contribuído para os resolver
Hélia Marchante, Nuno César de Sá, Marco Dinis, Liliana Duarte, Francisco A. López-Núñez, Maria Cristina Morais, Jael Palhas, Olímpia Sobral, Elizabete Marchante
As espécies exóticas invasoras são uma das principais ameaças à biodiversidade e representam atualmente um grande desafio em termos de gestão quer em áreas com interesse para a conservação quer em áreas de produção agrícola e florestal, e mesmo em espaços urbanos. Em Portugal, de entre as espécies invasoras com maior distribuição e que mais impactes negativos causam contam-se plantas (e.g., acácias, háqueas, jacinto-de-água e penachos) e animais (e.g., vespa-asiática, lagostim-vermelho americano e vespa-das-galhas-do castanheiro) de várias regiões do mundo. Os impactes negativos que causam no nosso território têm vindo a ser estudados e incluem a diminuição significativa das áreas ocupadas por outras espécies e da própria diversidade de espécies, alterações ao nível do funcionamento dos ecossistemas e das redes ecológicas, prejuízos elevados em áreas florestais e agrícolas, impactes na saúde pública, entre outros. As espécies de acácia encontram-se entre as mais estudadas (refletido neste artigo), mas os estudos focados noutras espécies têm vindo a aumentar. A gestão das espécies invasoras inclui diversas etapas e implica frequentemente intervenções muito dispendiosas cujo sucesso é por vezes reduzido. Ainda que o sucesso das intervenções possa ser muito afetado pelas características da espécie a controlar, vê-se também diminuído pela falta de atuação mais estratégica e com maior continuidade a médio-longo prazo. No entanto, pode ser maximizado quer pela seleção de técnicas e estratégias mais adequadas quer como resultado de novas soluções em que se tem vindo a apostar em termos de ciência aplicada. Uma destas soluções passa pela utilização de controlo biológico, que começou recentemente a ser mais considerado em Portugal, e que tem arrastado consigo desenvolvimentos técnicos e científicos a outros níveis. Outra solução passa pelo envolvimento cada vez maior dos cidadãos, em várias etapas da gestão. De facto, estes podem ter um papel decisivo tanto na disseminação de propágulos (e.g., sementes, frutos, ovos, etc.), agravando o problema, como na prevenção e/ou controlo das espécies invasoras. Estas temáticas são abordadas ao longo do capítulo procurando dar uma visão geral da problemática das invasões biológicas no nosso país.