Migrações de tartarugas-verdes (Chelonia mydas) da África Ocidental: Síntese de resultados de investigação no arquipélago dos Bijagós, Guiné-Bissau

ANA R. PATRÍCIO, CASTRO BARBOSA, AISSA REGALA, PAULO CATRY

As tartarugas marinhas são espécies migratórias que ao longo do seu ciclo de vida ocupam diversos habitats e locais separados por dezenas a milhares de quilómetros. Estas áreas estão frequentemente sujeitas a diferentes graus de pressão de origem antrópica e níveis de proteção. Como tal, a conservação eficaz das tartarugas marinhas depende da identificação destas áreas e de esforços colaborativos internacionais. A África Ocidental é uma região de importância global para as tartarugas marinhas, acolhendo cinco das sete espécies existentes. A tartaruga-verde (Chelonia mydas) destaca-se como uma das espécies mais abundantes na região, com uma das maiores colónias globais – e a mais expressiva da costa leste do Atlântico – localizada na ilha de Poilão, no arquipélago dos Bijagós, Guiné-Bissau. Ao longo de mais de duas décadas, iniciativas de monitorização e conservação participativa na ilha de Poilão resultaram numa proteção eficaz desta população, contribuindo para o seu crescimento. Investigações recentes, realizadas nos últimos seis anos através do uso de telemetria por satélite, permitiram mapear os movimentos e distribuição espacial das tartarugas-verdes da ilha de Poilão, identificando zonas vitais de alimentação ao longo da costa da África Ocidental, nomeadamente na Mauritânia, no Senegal, na Gâmbia e na Guiné-Bissau. Os dados mostraram que uma parte significativa destas áreas de alimentação encontra-se dentro dos limites de áreas marinhas protegidas (AMPs). Concluiu-se ainda que os machos reprodutores percorrem, em média, distâncias de migração inferiores às das fêmeas, algo que não tinha sido documentado nesta espécie. Estas descobertas aqui resumidas, fruto de vários anos de investigação participativa, mostram a importância do arquipélago dos Bijagós na estratégia de conservação atlântica das tartarugas-verdes, e apontam para a eficácia das AMPs para a proteção desta espécie. A integração dos habitantes locais dos Bijagós nas atividades de monitorização e investigação tem contribuído para o aumento da capacidade e consciência comunitária em prol da conservação da biodiversidade. Acresce que estes estudos têm vindo a incentivar a colaboração entre países que partilham este precioso recurso natural.

 

 

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