Mural – um portal atemporal para outras realidades, saberes e tempos
FERNANDO CORREIA
Os murais constituem um dos produtos da cultura visual, derivados das propriedades inteletuais que floresceram na génese da linha atual do Homem e, para alguns estudiosos, mais além ainda. No conceito e propósito extravasam o domínio da estética de uma qualquer obra de arte mural, mesmo sendo parietal ou rupestre (num proto-movimento artístico, ou proto-muralismo). Afiguram-se como o primeiro registo gráfico e constituem um dos primeiros documentos com função propositadamente assente na Comunicação – sejam na forma de gravuras, ou expressões pictóricas, ou ambas – entre grupos contemporâneos, da mesma comunidade ou visitantes, entre estas e outras realidades mágico-religiosas e até entre o presente e o desconhecido futuro (constituindo memória). Curiosamente estas primeiras formas reúnem já, e em si, todas as características primordiais que irão determinar derivações futuras expressas em novas formas e produtos comunicacionais. Também estas, cada vez mais, se mostram capazes de transmitir o saber das experiências empíricas e outras, como as planeadas e testadas (proto-científicas), mostrando-se sempre mais efetivas (eficazes e eficientes) que a cultura oral e até a escrita. Dos painéis do Antigo Egito, aos murais da Roma Antiga (pintura, gravura e mosaicos/azulejos), a História encarrega-se de evidenciar um continuum que desemboca nos frescos (da Idade Média ao Barroco) e consegue alimentar uma emergente Arte Urbana contemporânea, que democratiza a Arte e Ciência, exteriorizando-a – dos graffitis aos painéis-murais, inamovíveis ou amovíveis, ou dos cartazes aos posters instrutórios e aos painéis-murais informativos. Nestes dois últimos, a Ciência assume o protagonismo e subjuga de forma clara a componente artística em função de informar e ensinar com objetividade, clareza e correção. A fórmula ancestral para melhor comunicar parece não se esgotar nestes inúmeros apomorfos, derivados das vetustas pinturas rupestres, e novas soluções como o video mapping asseguram a perenidade dos murais, no presente e – tudo o indica – num futuro próximo.
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