Morcegos no Neotrópico: 15 anos de investigação sobre a sua diversidade e diversificação

MARIA JOÃO RAMOS PEREIRA

Os anos de 2020 e 2021 não foram propriamente uma odisseia no espaço, mas uma odisseia pela pandemia de COVID-19. E, desde o início desta pandemia, temos sido bombardeados por um enorme volume de informações sobre morcegos (Chiroptera; Mammalia), boa parte das quais estabelecendo ligações diretas, e erradas, sobre os únicos mamíferos voadores e a COVID-19. Com efeito, até ao momento, não existe nenhum estudo que mostre uma conexão direta entre os morcegos e a pandemia que estamos a viver. O genoma de alguns coronavírus previamente descritos em morcegos-de-ferradura (Rhinolophus affinis), na China, apresenta cerca de 96% de similaridade com o genoma do SARS-CoV-2; no entanto, é esta pequena percentagem de diferença que demonstra que o tempo de divergência entre o SARS-CoV-2, causador da doença em humanos, e o vírus filogeneticamente mais próximo encontrado em morcegos deve ser de 40 a 70 anos e, portanto, a existência de um ou múltiplos hospedeiros intermediários parece ter sido fundamental para que tal spillover tenha acontecido. Existe consenso entre cientistas de que o SARS-CoV-2 teve origem em animais selvagens, mas esta origem não foi ainda identificada na natureza. Por outro lado, trazer os morcegos para a ribalta é uma oportunidade para destacar os aspetos ecológicos e evolutivos que os tornam fascinantes, modelos biológicos ímpares e até nossos verdadeiros aliados na preservação de processos cruciais do planeta.

 

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